MEMÓRIA: "Caminhos da preservação do Patrimônio Arquitetônico em Santa Maria" Assessoria de Comunicação (ASSECOM)
17/01/2020

A Universidade Franciscana está presente na página Memória do Jornal Diário de Santa Maria. O espaço serve como um disseminador de lembranças trazidas pela UFN, que terão relação com o desenvolvimento da cidade de Santa Maria. Os textos serão produzidos por integrantes da Universidade Franciscana.

Confira a edição de 17 de dezembro, com texto escrito pelos professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFN, Adriano da Silva Falcão e Anelis Rolão Flores.


Ao longo dos anos, a Universidade Franciscana efetivou em ações a educação patrimonial e tornou-se um exemplo para a cidade de Santa Maria, por sua participação ativa nos caminhos de preservação do Patrimônio Arquitetônico da cidade. 

Nesse contexto, pode-se observar a necessária educação que inclui informar e conscientizar para a proteção legal do patrimônio. Ressalta-se que a democratização do conhecimento contribui para sensibilizar ao respeito pelo passado; aprimora a cultura pela preservação patrimonial; fortalece o pertencimento e a responsabilidade coletiva e favorece ao diálogo entre passado e futuro.

Recentemente, as questões relacionadas ao patrimônio arquitetônico da cidade de Santa Maria obtiveram maior visibilidade devido a discussões e à aprovação da nova legislação de uso e ocupação do solo urbano, ocorrida no ano de 2018. Em nossa percepção, a decisão legal, fragilizou a proteção ao patrimônio arquitetônico. Naquele processo foi omitida a necessidade de o poder público avaliar o bem patrimonial para autorizar a demolição de propriedades não tombados. Tal medida resultou em desproteção do patrimônio em ampla área da cidade e colocou em risco a preservação de diversos bens relevantes para a história local.

Destaca-se nessas considerações, exemplos de intervenções em pré-existências realizadas em edificações históricas, não oficialmente tombadas. Essas edificações fazem parte do patrimônio da Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis. São elas: o Colégio Sant’Anna, o Educandário São Vicente de Paulo e o antigo Hotel Glória.

O edifício do Colégio Sant’Anna inicia com o lançamento da pedra fundamental no ano de 1907. Este prédio sofreu reformas, que ampliaram seus espaços e modificaram sua configuração inicial (1928, 1934, 1940, 1944, 1946), porém, mantém-se original na volumetria e em elementos de fachada. Ao compatibilizar a adequação ao tempo e a manutenção da história, o requinte neoclassicista dos elementos que marcavam a fachada do prédio, foi substituído pela limpeza do traçado decorativista.



HISTÓRIA | Colégio Sant’Anna, em 1914.  (Figura: Album de Santa Maria da Bocca do Monte – org. L.P. Barcellos&Co., 1914.)


AVENIDA RIO BRANCO | Núcleo inicial do antigo Hotel Glória, na primeira metade do século XX, hoje ocupado pelo Prédio 8 da UFN. (Figura: Album Ilustrado da Cidade de Santa Maria – R.G.S. Organizado por Casas Aurora, SD.)


A configuração atual resulta de uma intervenção no ano de 2006 com a introdução de marquises metálicas e de nova proposta de pintura externa, seguindo premissas de um projeto contemporâneos de intervenções em pré-existência. 

A origem do prédio do Educandário São Vicente de Paulo data do ano de 1913. Todavia, o prédio toma a sua conformação atual a partir de acréscimos realizados nos anos de 1939 e 1951, quando confronta o alinhamento com a Rua Duque de Caxias. Embora as alterações de funções e estruturas, a conformação volumétrica principal do prédio se mantém, deixando transparecer aspectos ecléticos clássicos nos trabalhos em massa das janelas e na lógica compositiva da fachada. 

Na principal intervenção o edifício é acrescido de elementos contemporâneos percebidos nas janelas do último pavimento e por nova cobertura. Na face voltada para o pátio interno a intervenção é amplamente percebida em razão do grande átrio circular criado para receber a escada em arco e o hall de recepção, assim como a distribuição do edifício. Aqui constata-se o desenvolvimento de técnicas retrospectivas aliadas a teorias das intervenções.

O atual prédio localizado na Av. Rio Branco com a Silva Jardim, antigo Hotel Glória, fez parte da importante rede hoteleira no início do século XX. O edifício sofreu modificações no decorrer de sua existência culminando com a alteração de uso no de 2011. Nessa etapa salientaram-se os diferentes períodos de conformação do edifício em que o novo demarca uma clara separação conceitual permanecendo uma contextualização, e uma ordem compositiva dos vazios da fenestração. O volume inicial reconhece a importância da sua posição em esquina evidenciando a curva e as sacadas projetadas no passeio. Os elementos decorativos das fachadas e, também, a balaustrada que esconde a cobertura, reforçam o modus operandi do ecletismo.


O projeto interno modifica a lógica de circulação do edifício e faz com que se perceba a vinculação entre o passado e o presente pela existência de um átrio no acesso, que liga os quatro pavimentos. Nesse projeto percebe-se um alinhamento aos princípios contemporâneos de preservação do patrimônio, demonstrando a prática institucional vinculada a educação patrimonial.

Essas considerações sobre os caminhos de conscientização e de legislação em vista de preservar o patrimônio arquitetônico, convém lembrar, não constitui ação pontual, mas um processo que objetiva formar, na sociedade, a conscientização do valor do patrimônio aliada ao desenvolvimento econômico e à melhoria da qualidade de vida da população. A junção desses dois parâmetros é resolutiva e evita a museificação da cidade. Afinal, o crescimento da cidade e sua reinvenção são importantes e não param.

O objetivo de preservar o patrimônio arquitetônico é educar, para assim ampliar a autoestima e a qualidade de vida em sociedade. É importante afirmar que, as sensações de pertencimento e apropriação do espaço caminham junto ao desenvolvimento cultural, social e econômico de uma cidade, que não para de evoluir e, sobretudo, caminham junto no pensamento da Universidade Franciscana.

PRÉDIO 13 | Antigo Educandário São Vicente de Paula – sem os acréscimos laterais que levaram à conformação atual. Em frente, a antiga Igreja do Rosário, depois demolida para dar lugar a atual. (Figura: Álbum de Santa Maria da Bocca do Monte – org. L.P. Barcellos &Co., 1914.)


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