Mestranda apresenta documentário sobre mulheres que cuidam dos filhos de mães presas Assessoria de Comunicação (ASSECOM)
19/12/2018

A acadêmica do Mestrado Profissional em Saúde Materno Infantil, Liziane Falleiro dos Santos Arruda apresentou os resultados de sua pesquisa “Mulheres que cuidam: documentário sobre a experiência de cuidar dos filhos (as) de mães presas”, onde gravou um documentário em que ouviu relatos de avós e tias que cuidam dos filhos de suas familiares encarceradas.

Orientada pela professora Drª Luciane Najar Smeha, Liziane iniciou a sua fala trazendo dados a respeito do sistema prisional do país. Segundo ela, o Brasil possui a 5ª maior população carcerária do mundo, sendo que deste número, 26% são homens presos por tráfico de entorpecentes, e 62% são mulheres presas pelo mesmo motivo.

Um levantamento realizado em 2018 pelo Sistema de Informações Estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro, o Infopen, mostrou que em 16 anos, o encarceramento feminino aumentou 455%. Entre as razões pelas quais isso acontece, está o fato de que em alguns casos, quando o pai é preso por ter cometido algum crime, a mãe acaba assumindo seus negócios para manter o sustento da família.

Liziane realizou dois manuscritos durante o mestrado: “Mães presas: possibilidades de convivência com os (as) filhos (as) e com o familiar que assumiu a parentalidade” e “Parentalidade (in)desejada: avós e tias que cuidam dos (as) filhos (as) de mães presas”.

No primeiro, ela identificou publicações científicas sobre a maternidade no contexto prisional, onde foram analisados doze artigos, sendo a maioria deles realizados nas áreas de Psicologia da Saúde, Serviço Social e Direito.

Dentre os resultados, a mestranda destacou a dificuldade de relacionamento entre as mães presas e seus filhos que, segundo o estudo, é dificultada por fatores psicossociais como a questão financeira e a distância. Além disso, muitas mães não permitem que eles as visitem na prisão para protege-los, o que também influencia no convívio. 

Já no manuscrito “Parentalidade (in)desejada: avós e tias que cuidam dos (as) filhos (as) de mães presas”, Liziane realizou entrevistas com sete mulheres que assumiram a responsabilidade de criar os filhos de suas familiares encarceradas. A partir da análise dessas entrevistas, a mestranda chegou à duas categorias: ‘razões para cuidar’ e ‘relação da cuidadora com a presa’.

A mestranda concluiu que dentre as razões para cuidar, está o sentimento de culpa que as avós sentem e assumem o cuidado dos netos como uma maneira de reparar esse erro que elas acreditam ter cometido na criação de suas filhas. 

“Durante esse processo, as cuidadoras não se apropriam da maternidade por acreditar que após o cumprimento da pena, estas mães irão retomar o seu papel na estrutura familiar. E, essa atitude prejudica o crescimento psicossocial das crianças, que acabam crescendo sem nunca se sentirem amadas ou pertencentes àquele ambiente onde vivem”, relata.

Além disso, outro item analisado foi a relação entre cuidadora e presa, onde se revelou que a maioria das encarceradas são abandonadas por seus familiares. 

“Eu fui pessoalmente em alguns dias de visitação no presídio aqui da cidade e não vi sequer uma avó levando os netos para visitarem suas mães, seja por dificuldades financeiras ou desafetos. Esse abandono acaba resultando na reincidência dessas mães no mundo do crime”, explicou Liziane. 

Ao final da defesa, ela rodou o documentário que é o produto resultante do projeto de pesquisa e tem como intenção chamar a atenção da sociedade e fomentar o debate sobre o tema. 

Segundo ela, o objetivo é considerar a necessidade de mobilização em ações que minimizem os efeitos do rompimento abrupto dos laços familiares pois, muitas vezes, em casos de presas gestantes, a separação acontece ainda nos primeiros meses de vida da criança. Em outros casos, as mães são presas em frente aos seus filhos, ocasionando um certo trauma na infância. 

Quanto aos depoimentos, alguns relatam que as crianças se acostumam com a ausência, a ponto de não sentirem mais vontade de procurar ou visitar a mãe. Além disso, avós falam sobre o aguardo pelo fim da pena das filhas, para que elas possam retomar suas vidas com seus filhos, na tentativa de que não haja reincidência.

O intuito é que o documentário seja utilizado na academia como uma ferramenta pedagógica, especialmente nos cursos de Serviço Social, Psicologia, Direito e Sociologia. Ainda, em 2019, a mestranda pretende realizar um evento de lançamento do documentário, para que o público possa assistir à produção, bem como conversar com as entrevistadas e as acadêmicas envolvidas na pesquisa. Após esse lançamento, o arquivo será disponibilizado na internet.



Texto e fotos: Thayane Rodrigues / Estagiária Jornalismo 


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