Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFN apresenta mobiliário que substituirá tenda da vigília da Kiss Assessoria de Comunicação (ASSECOM)
13/02/2019

Na madrugada do último domingo de janeiro de 2019, completaram-se seis anos desde que as madrugadas do dia 27 nunca mais foram as mesmas. A tragédia na boate Kiss, que vitimou 242 pessoas, tornou-se uma ferida na cidade de Santa Maria. E por conta disso, durante o final de semana, houve uma programação especial, com seminários, homenagens e vigília.

Na ocasião, também foi apresentado o projeto que vai substituir a tenda de vigília permanente da Praça Saldanha Marinho, e que foi idealizada pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Franciscana.

O projeto foi construído ao longo do segundo semestre de 2018, pelo professor responsável, Adriano Falcão, juntamente dos monitores do Escritório Experimental do curso de Arquitetura e Urbanismo, Guilherme Marques dos Santos e Murilo Marques Flores. “Para nunca esquecer” foi a afirmação que acompanhou o processo de criação do mobiliário urbano.

“Este tipo de demanda social faz parte do que o curso acredita que possam ser contribuições acadêmicas e institucionais para a cidade. A UFN é uma instituição comunitária, e que possui forte vínculo com a realidade local. Os alunos que participaram da proposta trazem consigo esta realidade, seja por algum tipo de vínculo pessoal ou mesmo pelas alterações legais surgidas após a tragédia. Acreditamos que este trabalho tenha trazido consigo a responsabilidade de atuar em um local público e muito importante da cidade, assim como também ajudou a compreender todo um conjunto de sentimentos e discussões que foram levantadas no espaço da antiga tenda”, avalia o coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Francisco Queruz.

DUALIDADE

O Espaço Dual, como foi chamado o projeto, visa tornar a tenda de vigília um monumento de lembrança, referência, e principalmente, convivência. “Nós estamos em período de férias da academia, mas estivemos presentes no dia, pois estamos orgulhosos do resultado do projeto, e sentimos que ele contribui, de forma positiva, para as manifestações a respeito do sentimento de perda, pela parte dos familiares”, relata o professor Adriano.

Durante a apresentação do projeto, os idealizadores explicaram que a dualidade do mobiliário se dá através do contraste entre os materiais utilizados na sua construção. O concreto, ligado aos aspectos terrenos, e a transparência do acrílico alinhado ao pensamento do plano espiritual. Esses dois elementos se ligam a cidade também pelo desenho do mobiliário, que lembra os contornos da encosta do planalto central, que circundam a paisagem da cidade de Santa Maria.

“O projeto chegou até o curso através de um pedido da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), representados por Flávio José da Silva e Sérgio da Silva. Eu assumi o projeto no 2º semestre de 2018, e me senti muito a vontade de levar essa proposta adiante, pois conhecia algumas de suas exigências. O processo de criação foi bastante interessante e prazeroso, pois os alunos trabalharam com desprendimento, e a atividade projetiva foi natural e leve. Partimos do número 242, e fizemos com que esse número participasse, de forma simbólica, estando presente nos nomes das vítimas e também nas medidas a serem consideradas para a elaboração do mobiliário” explica Adriano.

No mobiliário, os nomes devem ser inscritos em relevo no acrílico, e retroiluminados por uma fita de led, destacando-os. A ideia é que o mobiliário possa ser utilizado, não somente para a vigília, mas também para o convívio da comunidade. A proposta apresentada pelos idealizadores do espaço é de que ele seja a lembrança positiva de um fato negativo, e que dessa forma, ele possa acolher, integrar e celebrar o encontro, tanto dos familiares das vítimas, quanto da população em geral. 


A ARQUITETURA E A COMUNIDADE

O Escritório Experimental do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFN recebe solicitações e realiza projetos voltados para a comunidade. O acadêmico Guilherme Marques dos Santos faz parte do escritório desde 2017, e participou do projeto desde a primeira proposta para o mobiliário.

“No começo nós não tínhamos muita noção do que eles queriam, mas sabíamos que ia existir um memorial, que estava em fase de concurso. Com o tempo e as reuniões, fomos entendendo que eles queriam que aquele espaço se mantivesse ali, presente, mesmo quando não houvesse nenhum pai presente, em vigília. Eles esperavam que o monumento não se tornasse um espaço ocioso durante sua ausência, e que os representasse ali”, lembra Guilherme.

Para a apresentação do projeto, foram utilizados modelos em 3D, e uma maquete. Além dos acadêmicos Guilherme e Murilo, o projeto também contou com o auxílio na execução das alunas Paula de Christo Marques, Juliana Manfio Trentin e Rafaela Lameira Ferigolo.

“O primeiro contato que tive com os familiares foi através do projeto, e foi emocionante, pois, embora todos saibam o que aconteceu, o contato com aquela lista imensa de nomes, e o trabalho de lembrar e construir algo em cima disso, durante algum tempo, mexe bastante com a gente. Eu acredito que cresci muito enquanto estudante e futuro arquiteto, é algo bastante sentimental e que exigiu bastante de nós”, observa Guilherme.

Já o acadêmico Murilo Marques Flores, se inscreveu para a monitoria do Escritório Experimental, e foi convidado por Adriano para integrar o grupo responsável pelo projeto. Para ele, a oportunidade de poder fazer parte de um trabalho que será executado enriqueceu muito a sua experiência na academia.

“Trabalhar com mobiliário urbano implica em ter a aprovação da cidade, e nesse caso, foi preciso ter uma preocupação para além da parte conceitual, mas pensar também na questão conceitual e espiritual dos pais. Eu tinha conhecidos que estavam na boate, alguns se salvaram, a maioria não. Perdi amigos do tempo de colégio, e sei que não cabe a mim julgar os culpados, mas acho que muitos ainda estão soltos, e isso é muito triste, dá uma sensação de impunidade. E fazer parte desse projeto foi a nossa forma de mostrar que não estamos parados em relação a isso, nós lembramos todos os dias”, desabafa Murilo.

Para o professor Adriano Falcão, atividades como esta, de caráter extensionistas, proporcionam ao estudante a experiência de se tornar um profissional ainda melhor, pois os aproxima das realidades as quais estão expostos, ao mesmo tempo em que demonstra a importância da ação do arquiteto urbanista junto à comunidade.

“O grupo acredita que pensar em mobiliários urbanos para uma cidade é de extrema responsabilidade, pois estes devem ser apropriados por todos, e não serem impostos através de uma visão particular. Nesse sentido, sugerimos à AVTSM que o mobiliário fosse exposto para a apreciação e aceitação de todos, antes de sua execução efetiva, sem que seja visto como uma imposição dos grupos gestores do espaço urbano. E mesmo com uma participação bastante pequena, nós acreditamos que estamos contribuindo com uma construção positiva dos espaços urbanos de nossa cidade”, finaliza Adriano.



Texto: Thayane Rodrigues / Estagiária de Jornalismo 
Imagens: Divulgação / Arquitetura e Urbanismo UFN



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