Bate-papo sobre a atuação das mulheres na área esportiva Assessoria de Comunicação (ASSECOM)
11/07/2019

O hall do prédio 15 da Universidade Franciscana foi palco de um bate-papo que teve como tema a desconstrução da imagem da mulher dentro e fora dos campos de futebol. O debate integra o “Descontruindo: precisamos falar sobre gente”, evento elaborado pelos integrantes da disciplina de Gênero e Comunicação, do curso de Publicidade e Propaganda, que visa problematizar como é feita a representação da mulher na mídia.

Nos dias atuais, apesar dos diversos avanços em relação à uma comunicação menos crítica, a produção publicitária ainda permanece carregada de estereótipos. Pensando em formar futuros profissionais que desconstruam esse padrão ainda presente na mídia, as professoras Pauline Neutzling Fraga e Claudia Buzatti Souto, da PP, tiveram a iniciativa de criar a disciplina de Gênero e Comunicação.

Como parte da avaliação e também uma forma de fechamento da disciplina, os acadêmicos são encarregados de organizar o evento “Desconstruindo”. A atividade, que está em sua 3º edição, contou, neste ano, com a presença de Andressa Hartmann, árbitra da Federação Gaúcha de Futsal, Janaína Wille, acadêmica de jornalismo e integrante do Radar Esportivo - programa de extensão pioneiro em transmissões ao vivo de futebol americano em rádio -, Tatiane Dias Pinto, árbitra da Federação Gaúcha de Futsal, e Claudia Kessler, jornalista, cientista social e uma das fundadoras da Liga de Futsal Feminino de Santa Maria.

O “Desconstruindo: precisamos falar sobre gente” teve a mediação da graduanda em jornalismo, Caroline Comassetto, e contou com a presença dos integrantes da disciplina de Gênero e Comunicação, bem como de professoras e discentes de outros cursos, que atraídas pela proposta do encontro, prestigiaram o bate-papo que abordou sobre a presença e a representação da mulher no futebol, tendo em vista que 2019 foi o ano da Copa do Mundo Feminina da FIFA.

O debate iniciou com a cientista social, Claudia Kessler, afirmando que essa foi a Copa das Copas do futebol feminino. Ela defende que, por conta da transmissão dos jogos em TV aberta e os patrocínios, o futebol feito por mulheres ganhou o reconhecimento e o destaque que sempre lhe foi negado durante competições anteriores. Claudia também destaca que isso acontece porque a mídia ainda retrata a mulher focando em aspectos que ressaltem a sua feminilidade, como a leveza de seus movimentos. Essa prática faz com que o futebol, que exige força e velocidade, seja considerado um esporte de características predominantemente masculinas.

A acadêmica de jornalismo da UFSM, Janaína Wille, destacou também que uma das razões utilizadas para que os jogos não fossem transmitidos, até então, era de que não haveria audiência, afirmação que acabou sendo fortemente contrariada pelos grandes números de audiência registrados durante os jogos. Janaína também destacou a atuação de profissionais do sexo feminino durante a cobertura das competições. “Nós vimos repórteres mulheres falando de mulheres no esporte, e isso foi muito importante para estimular nós estudantes que temos a ambição de seguir no meio”, ressaltou.

A ex-atleta e árbitra, Tatiane Dias, aproveitou o momento para incentivar a quebra das diferenciações no tratamento e educação das crianças, desde pequenas. Isso porque, segundo ela, ao saírem para brincar no pátio da escola, as crianças são ensinadas de que vôlei é jogo de menina, e futebol é jogo de menino. “Nós queremos muitas Marta’s e Formiga’s, mas o que está sendo feito na escola para estimular as nossas meninas? Por isso eu defendo que desde bem pequenas, as nossas crianças sejam inspiradas a serem e fazerem o que quiserem, sem essa de ser coisa de menina, ou não”, explica Tatiane.

Tatiane está envolvida com o handebol há mais de 23 anos. Filha de ex-jogador, o esporte sempre esteve presente em sua vida. Certa vez, recebeu a oferta de treinar uma equipe estadual, mas acabou sendo substituída por ser mulher. Foi então que ela foi atrás de cursos e capacitações. “Nós mulheres precisamos nos esforçar três vezes mais, em tudo o que fazemos. É exaustivo em certos momentos, pois precisamos provar que somos capacitadas o tempo todo. Mas eu fui atrás, não desisti, e hoje sou reconhecida e indicada pelos próprios jogadores que já conhecem o meu trabalho”, destaca. 

A árbitra da CBFS, Andressa Hartmann, que já atuou em competições nacionais, destaca que o espaço para a atuação das mulheres no esporte existe, mas ainda faltam candidatas para ocupar estes espaços. Ela revela que, por conta da profissão, acabou adquirindo um estilo de vida sempre policiado e discreto, pois segundo ela, quando uma mulher é criticada, ela sempre sofre mais com a crítica e o julgamento por conta do pensamento comum de que aquele espaço – do esporte – não lhe pertence.

A jornalista Claudia também destacou a importância de se ver, cada vez mais, a imagem da mulher no poder. “É uma visão diferente e nova pois a gente está trabalhando com conceitos como a visibilidade, que nos permite ver as coisas de uma outra maneira. A representatividade é necessária pois a mulher que se projeta acaba incentivando outras à fazerem o mesmo. Infelizmente, a crítica do erro ainda é atribuída ao gênero, quase como se fosse um recado: você errou porque é mulher! Mas nós precisamos nos unir e apoiar, utilizar do conceito de sororidade e mudar essa visão”, explica. 

O bate-papo foi finalizado com a discussão do esporte enquanto espaço de inclusão e desenvolvimento de habilidades de liderança. As quatro integrantes da conversa concordaram com o pensamento de que o respeito está defasado, enquanto palavra e atitude, e que este precisa ser trabalhado e incentivado desde sempre. 

A programação do “Descontruindo” ainda contou com uma atividade envolvendo perguntas e respostas, e partidas de mini-futebol e basquete. Também houve uma exposição de fotos realizadas pelo acadêmico Eduardo Jardim, e textos produzidos por Verônica Callai Bersch, da Publicidade e Propaganda. As fotografias retratam mulheres que praticam diversos esportes na cidade. 

A disciplina de Gênero e Comunicação é ofertada somente no 1º semestre de cada ano, para alunos dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Como o próprio nome já diz, a disciplina de Gênero e Comunicação aborda temas atuais e pertinentes às questões de representação, tendo como foco principal, a mídia.

“A gente entende que para quebrar esses padrões da mídia, que ainda é muito machista, é necessário formar comunicadores que sejam agentes divulgadores dessa representatividade. Para que isso aconteça, esse ano, fomentados pela Copa do Mundo Feminina, nós trabalhamos questões como o esporte e as diferenças de salário, mas em geral, o foco é sempre a discussão de gênero, um tema que ainda é muito recente e que precisa ser discutido”, destaca Pauline. 


Texto: Thayane Rodrigues / Estagiária de Jornalismo Assecom
Imagens: Giulimar Machado / Estagiário Jornalismo Assecom


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