“A pesquisa hoje, em qualquer lugar do mundo, vale muito a pena” Assessoria de Comunicação (ASSECOM)
13/09/2019

Texto: Thayane Rodrigues / Estagiária Jornalismo
Imagens: Mark Braunstein / Assecom e arquivo pessoal

Filho de mãe professora, Leonardo Dalla Porta se tornou bacharel em Matemática Aplicada Computacional, licenciado em Matemática, mestre em Ensino de Matemática e agora primeiro doutor sob regime de cotutela da Universidade Franciscana, formado pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Franciscana em conjunto com a Escola Doutoral ED485 EPIC (Éducation, Psychologie, Information et Communication) em Ciências da Educação da Universitè Lumière Lyon 2, da França.

Egresso da UFN e professor da área de matemática em diversos cursos da IES, Leonardo defendeu recentemente sua tese de doutorado, obtendo a titulação de Doutor, pelas duas instituições. Isso por que a pesquisa foi realizada na modalidade de cotutela, que tem como característica principal a inscrição plena do doutorando em duas universidades de países distintos.

A partir do título “Formação do raciocínio estatístico na conceptualização da estimação estatística: estudo exploratório de um dispositivo pedagógico no ensino superior”, o Doutor Cotutela verificou como se dá a formação do raciocínio estatístico. De acordo com Leonardo Dalla Porta, a pesquisa envolveu cerca de 80 alunos de 6 cursos de graduação da UFN, e teve a parte das análises realizada na França. O objetivo de Leonardo foi atentar para a importância de reforçar uma educação estatística, de forma que as pessoas possam ler e interpretar melhor os gráficos que as cercam em todos os meios e redes sociais.

Confira entrevista completa:

- És bacharel e licenciado em matemática, o que te motivou a escolher a profissão?
Leonardo: Por conta da minha mãe ser professora de geografia. Isso sempre me influenciou, eu gostava muito de estar em sala de aula. O “ser professor” sempre me chamou a atenção, queria muito trabalhar com isso, mas até os meus 16 anos eu não sabia ao certo para qual área seguir. Descobri uma afinidade com a matemática ainda na escola, e na época, a UFN oferecia o curso de Matemática Computacional, então juntou duas coisas que eu gostava: a computação e a matemática. Foi durante essa primeira graduação que percebi o que era dar aula, ser professor, e aí me deu vontade de realmente seguir a profissão, então eu cumpri o restante do curso e já entrei direto na licenciatura. Foram dois cursos de graduação em cima da matemática.

- Quais eram as tuas expectativas em relação à profissão?
Leonardo: Nenhuma. A primeira sala que eu entrei para dar aula, como professor, foi em uma turma de cursinho, onde eu me deparei com mais 70 alunos me olhando. Foi então que eu pensei para mim mesmo: “E agora? Agora vamos em frente”. Para mim tudo isso foi muito natural, não sei o que acontece, mas parece que quando a gente chega lá na frente dos alunos, acontece alguma coisa que faz com que eu me sinta muito bem naquele lugar. Desde então, atuei em todos os níveis na docência: durante 10 anos trabalhei com ensino fundamental e médio, cursinho pré-vestibular, educação de jovens e adultos e só depois passei a lecionar no ensino superior.

- Tu podes afirmar que te encontrou no curso?
Leonardo: Eu fiz boa parte do curso de Direito, faltando apenas quatro semestres para finalizá-lo, mas eu não tenho vontade de voltar pois me encontrei como professor. Ainda durante o bacharelado comecei a dar aulas particulares, e talvez por isso foi muito natural para mim estar em uma sala de aula. Quando eu anunciei que dava aulas particulares, já surgiu um, dois alunos, e quando percebi já estava com a agenda lotada. É isso que eu me lembro, foi muito legal. Já sobre o ingresso na licenciatura, eu tive duas inspirações aqui de dentro da UFN, as professoras Vanilde e Eleni Bisognin, que são até hoje as minhas referências. Elas foram minhas professoras na graduação, no mestrado e também no doutorado. Elas me acompanharam durante toda a minha trajetória.

- O que te motivou a realizar o Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática?
Leonardo: 
Na época, eu estava dando aulas para cursinho, ensino fundamental e médio, mas desde o meu primeiro dia de aula na licenciatura a minha vontade era trabalhar com o ensino superior. Tenho certeza que essa experiência e bagagem todo professor de licenciatura tem que ter antes de chegar na graduação, porque ela te fortalece, ela vai te mostrar como é que é a realidade com os alunos e os jovens. Então, na hora de escolher a instituição onde cursar, não tive dúvidas: seria na UFN. E ainda durante a pós-graduação eu fui convidado para trabalhar no ensino superior enquanto cursava o mestrado, desta forma passei todo ele dando aulas e quando me tornei mestre, segui na Universidade Franciscana, como docente.

- Como é a rotina de ministrar aulas para diversos cursos da UFN?
Leonardo:
 Aqui ministro aulas para as Engenharias, Farmácia, Odontologia, e até mesmo para o curso de Enfermagem, com o qual trabalho a Biomatemática e a Bioestatística. A estatística hoje está inserida em quase todos os cursos, transito por todas as áreas, o que é ótimo e me deixa muito feliz aqui dentro, pois sempre que falo que sou formado em matemática, as pessoas me perguntam para quem dou aulas e então quando eu falo sobre a Odontologia, ficam espantados, pois são cursos que tem estatística e o pessoal muitas vezes não sabe, nem imaginam.

- E sobre trabalhar, atualmente, na formação de novos professores, como lidas com isso?
Leonardo:
 Busco levar a experiência que tenho, não é muita coisa, mas é um começo, e acho que levar isso para a sala de aula, mostrar a teoria na prática... tudo faz parte de uma melhor formação. Há também uma preocupação muito grande, que a gente percebe, em fortalecer o conteúdo. Existe hoje uma certa carência do conteúdo específico matemático, e isso é importante de ser discutido e priorizado.

- Como surgiu a oportunidade de realizar o doutorado em regime de cotutela?
Leonardo: 
Depois que finalizei o mestrado a primeira coisa que pensei foi que eu não podia parar. No meio desse pensamento abriu o doutorado aqui, e então me aconteceu uma coisa maravilhosa quando o professor Jean-Claude Régnier veio para cá realizar um seminário devido a um acordo com a professora Silvia Maria Aguiar Isaia. Durante essa palestra eu fui trocar uma ideia com ele, e aí ele lançou a proposta para mim. No primeiro momento em que ouvi falar do doutorado cotutela eu aceitei, mas não sabia o quão difícil ia ser. Foram praticamente dois doutorados, a cotutela é isso: atender às demandas da Universidade Franciscana e da Universitè Lumière Lyon 2. É uma tese alinhada ao português e também nos formatos franceses, não são teses distintas, mas tem suas diferenças. Foi a minha primeira vez fora do país, que ocorreram em dois momentos: a primeira para conhecer a IES e estudar francês, e depois, durante um ano, para realizar a pesquisa e cumprir os requisitos que a Universidade exige para a formação doutoral lá. Foi uma experiência maravilhosa em termos profissionais e pessoais também.



- Como aproveitaste a tua estadia na Universitè de Lumière Lyon 2, na França?
Leonardo: 
A Universidade de Lyon é muito respeitada na Europa. Ela recebe alunos do mundo todo, em especial, nas aulas do Jean-Claude, pois as salas dele eram compostas por pessoas de todas as regiões. Durante a minha estadia lá eu tive a oportunidade de participar de dois eventos internacionais: o Congresso Francófilo Internacional de Estatística (CFIES), que reúne a sociedade estatística francesa na cidade de Grenoble. E em Belford estive no 9º Colóquio Internacional Sobre Análise Estatatística (ASI). Na ocasião, apresentei meu trabalho para o professor Régis Gras, que foi quem inventou a estatística implicativa, e também para Gérard Vergnaud, criador da teoria dos campos conceituais, teorias que é a novidade do meu trabalho, pois trata-se de um modelo de exploração de dados diferenciado e uma novidade para o mundo acadêmico brasileiro. Ao final de setembro estarei lá novamente, desta vez, em Estrasburgo. 

- Como tu estavas no dia da defesa?
Leonardo:
 Quando comecei a apresentação eu chorei, pois tive a presença da Reitora e Vice-reitora, bem como da Pró-reitora Acadêmica da UFN, meus colegas, orientadores, minha família. Enxerguei aquele monte de rostos conhecidos e que sempre me apoiaram e pensei: “meu Deus, chegou ao final, hoje é o último dia”. Mas acabei iniciando a minha apresentação afirmando que aquele não era o último dia, mas sim o início, pois durante o doutorado eu busquei algo para pesquisar, encontrei, apresentei e agora é que vou trabalhar realmente nisso. Fiquei muito emocionado, não foi um trabalho fácil, o doutorado em si já não é, e o regime de cotutela acrescentou algumas dificuldades extras, pois é uma outra cultura, outro formato de trabalho, então quando terminou foi uma carga emocional muito grande. Não é fácil trabalhar e estudar, mas nunca abri mão do meu trabalho, sempre procurei fazê-lo da melhor forma possível, e dediquei minhas noites e fins de semana ao doutorado. Não reclamo, faz parte da formação e é um trabalho cuja recompensa vale muito a pena. 


- Quais são os teus planos para o futuro?
Leonardo: 
Assim como no final do mestrado eu já ansiava pelo doutorado, agora eu já estou pensando em um pós-doutorado, tenho total intensão de continuar na pesquisa, pois vale muito a pena. A pesquisa hoje, em qualquer lugar do mundo, vale. A própria palavra “pesquisar” significa algo que tu estás procurando, algo novo que tu está se propondo a buscar, seja qual for a área. Na França o governo apoia muito os pesquisadores, a educação francesa é muito respeitada. E o Brasil não fica para trás, pois temos aqui pessoas tão qualificadas quanto as de lá, o que falta, infelizmente, é investimento e valorização, mas aos interessados em seguir no âmbito da pesquisa, eu sempre reforço: não se pode desistir jamais. 

- E se tu pudesses deixar um recado para quem está entrando agora na graduação, qual seria? 
Leonardo: 
Eu fico muito triste quando as pessoas dizem que não gostam da matemática, porque na verdade eles apenas não a conhecem. Eu acho que o curso de matemática é um curso excelente, principalmente o nosso aqui da UFN, pois hoje quem entra tem a chance de fazer licenciatura, mestrado e doutorado, tudo junto, e já sair daqui doutor, basta querer. Eu acredito que a matemática daqui a algum tempo vai se ver sem professores, e inclusive já existe um movimento na Europa que teve uma baixa nas licenciaturas, e agora elas estão voltando, pois, o pessoal começou a perceber aquele mercado aberto e com muito potencial. É uma área que vale a pena. 


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